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CAMBURÃO: UM PROCESSO PESSOAL

Posted by Nóis de Teatro On 06:47 No comments



Por Kelly Enne Saldanha



O processo de pesquisa de “Todo Camburão Tem Um Pouco De Navio Negreiro” tem trazido inúmeras reflexões acerca da vida do negro dentro dessa nossa sociedade. É inevitável que quando nós pensamos na vida deste negro, não possamos deixar de pensar na nossa. Somos negros e negras. E por mais camuflados que sejam o preconceito e discriminação, eles batem em nossa porta diariamente.
Encontramo-nos todos os dias, pela manhã, e nesses encontros, a nossa pesquisa tem nos levado para diversos rumos, mas nunca nenhum outro processo nos levou tanto para nós mesmos. Estamos olhando para dentro. Enxergando nosso passado, nossas feridas. Lembrando de situações que vivemos, que nos tocaram de alguma maneira, nem sempre positiva. Estamos falando de negro e de como cada um sofre, de como cada um de nós somos afetados. E cada dia que passa, os números vão mostrando aquilo que discutimos de forma até cheia de subjetividade.
Ao ler uma matéria da revista TPM- Menina Mulher da Pele Negra, fiquei impressionada como EU, MULHER, NEGRA E POBRE, estou na ultima posição de uma lista social que trata a todos como desiguais. Enquanto uma mulher branca recebe 67% do salário de um homem branco, a mulher negra recebe, ocupando o mesmo cargo, 38% (dados do censo de 2010). Da mortalidade materna, a mulher negra morre 67% a mais que as brancas (conforme pesquisa nacional de demografia e saúde). Esses dados acima revelam uma questão racial e social. Todo Camburão Tem Um Pouco De Navio Negreiro. Sendo mãe, morando na periferia e negra, eu poderia facilmente estar inclusa nesses dados de mortalidade materna.
Tudo isso nos afeta diretamente. Como não se preocupar, quando é nesse tipo de mundo que nossos filhos vão nascer? Como não se apavorar ao ver que o respeito ao outro está sendo cada vez mais esquecido? Como esquecer o preconceito e discriminação que sofremos todos os dias?
Tudo isso faz parte de nós. Não temos como fugir. Mas qual o resultado que teremos disso tudo? Não sabemos. Somente em novembro que vamos saber.

Serviço
Todo Camburão tem Um Pouco de Navio Negreiro
Premio FUNARTE de Arte Negra
Durante os próximos quatro dias (18 a 21), a pesquisa continua no estado do Maranhão, onde conheceremos a Comunidade Santo Antônio dos Pretos, no município de Codó, retornaremos a Comunidade de Felipa, em Itapecuru Mirim, num processo de imersão no Tambor de Crioula e visitaremos a experiência do Quilombo Urbano, em São Luis.

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