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O SENTIMENTO QUE É SER A "TIA DO TEATRO"

Posted by Nóis de Teatro On 06:36 No comments

Por Kelly Enne Saldanha

Cresci vivendo dentro de uma comunidade católica, a Comunidade de Granja Lisboa. Nessa comunidade, passei pelo batismo, primeira eucaristia e crisma. Fui inclusive catequista neste último sacramento. Passei grande parte da minha infância e juventude ali, naquele lugar cheio de tias. Por mais que nenhuma delas tenham sido de fato minhas catequistas, não tinha como chamar a tia Nalva de Nalva, tia Lucia de Lucia e tão pouco a tia Neide de Neide. Até hoje.
Minha vida teatral começa ainda no ensino médio, porém ela começa a ganhar forma dentro dos muros da Comunidade de Granja Lisboa. Desde então, vamos chegando aos quinze anos de teatro.
Por conta da experiência teatral junto à comunidade com o teatro de rua, muitas pessoas nos abordam para comentar sobre espetáculos que realizamos ou indagar sobre qual e quando será realizado o nosso próximo trabalho. Porém a relação com a comunidade vem mudando de uns anos pra cá. Desde o ano de 2013, o Nóis vem ministrando aulas de teatro no bairro. Iniciamos na sede antiga que ficava na rua Barra Vermelha, 381. Depois de mais de quatorze anos de atividades nessa sede, mudamos. Voamos.
Hoje na nova sede, não deixamos de dar aulas às crianças. E desde quando começamos a realizar esse tipo de ação no bairro, nossa relação com a comunidade mudou. Além das crianças, seus pais, amigos e vizinhos passaram também a me chamar de "Tia do Teatro". E Edna Freire sempre está comigo nessa empreitada.
Essa responsabilidade que é cuidar, ensinar, nos muda. Olhos e ouvidos bem atentos, voz afiada pra falar e falar e falar. E sempre prontas para aquele conselho: "Se coloque no lugar no colega..."
Apesar de sermos vizinhos, nossas crianças e nós, vivemos uma vida completamente diferentes. E é no teatro que podemos ver seus medos, anseios, preocupações. E sabe qual é o principal assunto delas em cena? O medo de ficar longe da família. Sejam sequestradas pelo homem do saco preto, sejam carregadas pela bruxa malvada, sejam pelo medo de morrer, tudo isso é visto nas cenas que elas combinam entre elas para mostrar ao final de alguns encontros.

 O mais intrigante é como nós também vamos fazendo parte da vida delas de alguma maneira. Não estamos aqui pra salvar ninguém. Mas temos a oportunidade de mostrar outras possibilidades. Isso é possível. E a gente se surpreende tanto com aquilo que recebemos. E é bom. 

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