.

.

About

A ETERNA CONSTRUÇÃO DO SUJEITO CHAMADO “ATOR”

Posted by Nóis de Teatro On 17:22 No comments



Por: Henrique Gonzaga


Estar imerso em um processo é estar entregue a tudo que ele pode lhe trazer. Todas as ideias, reflexões, dores e alegrias que ele te joga no peito sem muito receio. Durante esse processo de construção da intervenção urbana O Jardim das Flores de Plástico, várias questões passam pela minha cabeça, questões essas que invadem vários âmbitos do meu ser, mas a que pretendo me ater aqui é a questão do ser ator.

Não pretendo estabelecer relações com as inúmeras teorias que existem sobre o ator, sobre a ação física ou presença cênica, mas gostaria de relatar as observações e sensações que vem me atravessando até aqui.

Muito se fala sobre o sujeito ator, sobre as suas “obrigações”, suas definições, suas competências, quando me vejo em meio aos debates sobre o assunto, me pergunto em que lugar o ator se coloca como sujeito ativo e definidor do seu trabalho? Talvez a questão seja fácil de responder, o papel do ator é pesquisar, analisar, criar e executar o papel, mas tenho levado essa questão para outros âmbitos da vida desse sujeito. O ator como sujeito, sujeito ativo de uma sociedade, de uma comunidade, de um lugar.

Até esse momento do processo tenho visto dez atores que tem alguns pontos em comum, a vida na periferia, o trabalho com o teatro de rua e os afetos que se tem com o que é feito. Cada vez mais tenho notado que o cidadão Henrique tem se afetado pelo artista Henrique Gonzaga. Talvez essa questão seja boba, afinal, a pessoa e o artista são um só, mas quando me pego pensando nos rumos que a vida foi me levando nos últimos 13 anos, vejo-me como um ser que não se conformou com a obrigação social de ter um ofício, onde a minha força de trabalho fosse explorada por quem chegar primeiro. O meu “ofício”, pelo contrário, luta contra essa exploração.

Por isso chego à fatídica questão: Quem está construindo quem? O artista está construindo o sujeito ou o sujeito está construindo o artista?

No nosso trabalho de 13 anos aprendemos a ver beleza nas nossas dores, aguçamos a sensibilidade para a vida, construímos a relação dor e alegria, conseguimos perceber as delicadezas e agressividades do poder.

Nesses caminhos percebo que o sujeito e o ator estão em constante construção, que as verdades absolutas são as mais fáceis de se derrubar, que os caminhos da arte são tortos e são sujos, mas cabe ao dono dos pés sujar ou não eles. Cada vez mais tenho a certeza de que o caminho é esse, que as verdades e as mentiras são essas e que não existe um ator pronto, assim como, também, não existe um sujeito pronto, estamos em constate conflito.

Isso tudo tem me afetado muito durante todo o processo, somos 10 pessoas, 10 artistas, 10 sujeitos pensantes em buscar de uma arte de luta, em busca de uma luta artística.

Que fiquem as dúvidas e as questões, afinal, sem elas o artista, e o sujeito, se tornam massa de modelar e eu não tenho nenhum talento pra boneco!

0 comentários:

Postar um comentário