Por:
Henrique Gonzaga
Estar imerso em um processo é estar entregue a tudo que ele pode lhe
trazer. Todas as ideias, reflexões, dores e alegrias que ele te joga no peito
sem muito receio. Durante esse processo de construção da intervenção urbana O
Jardim das Flores de Plástico, várias questões passam pela minha cabeça,
questões essas que invadem vários âmbitos do meu ser, mas a que pretendo me
ater aqui é a questão do ser ator.
Não pretendo
estabelecer relações com as inúmeras teorias que existem sobre o ator, sobre a
ação física ou presença cênica, mas gostaria de relatar as observações e
sensações que vem me atravessando até aqui.
Muito se
fala sobre o sujeito ator, sobre as suas “obrigações”, suas definições, suas
competências, quando me vejo em meio aos debates sobre o assunto, me pergunto
em que lugar o ator se coloca como sujeito ativo e definidor do seu trabalho? Talvez
a questão seja fácil de responder, o papel do ator é pesquisar, analisar, criar
e executar o papel, mas tenho levado essa questão para outros âmbitos da vida
desse sujeito. O ator como sujeito, sujeito ativo de uma sociedade, de uma
comunidade, de um lugar.
Até esse
momento do processo tenho visto dez atores que tem alguns pontos em comum, a
vida na periferia, o trabalho com o teatro de rua e os afetos que se tem com o
que é feito. Cada vez mais tenho notado que o cidadão Henrique tem se afetado
pelo artista Henrique Gonzaga. Talvez essa questão seja boba, afinal, a pessoa
e o artista são um só, mas quando me pego pensando nos rumos que a vida foi me
levando nos últimos 13 anos, vejo-me como um ser que não se conformou com a
obrigação social de ter um ofício, onde a minha força de trabalho fosse
explorada por quem chegar primeiro. O meu “ofício”, pelo contrário, luta contra
essa exploração.
Por isso
chego à fatídica questão: Quem está construindo quem? O artista está
construindo o sujeito ou o sujeito está construindo o artista?
No nosso
trabalho de 13 anos aprendemos a ver beleza nas nossas dores, aguçamos a
sensibilidade para a vida, construímos a relação dor e alegria, conseguimos
perceber as delicadezas e agressividades do poder.
Nesses
caminhos percebo que o sujeito e o ator estão em constante construção, que as
verdades absolutas são as mais fáceis de se derrubar, que os caminhos da arte
são tortos e são sujos, mas cabe ao dono dos pés sujar ou não eles. Cada vez
mais tenho a certeza de que o caminho é esse, que as verdades e as mentiras são
essas e que não existe um ator pronto, assim como, também, não existe um
sujeito pronto, estamos em constate conflito.
Isso tudo
tem me afetado muito durante todo o processo, somos 10 pessoas, 10 artistas, 10
sujeitos pensantes em buscar de uma arte de luta, em busca de uma luta
artística.
Que fiquem as dúvidas e as questões, afinal, sem elas o artista, e o sujeito, se tornam massa de modelar e eu não tenho nenhum talento pra boneco!
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