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CRÍTICA ESPETÁCULO QUASE NADA - POR FLÁVIO GONÇALVES

Posted by Nóis de Teatro On 20:40 No comments

 
 
"Brecht já dizia da exceção e da regra: na dúvida é melhor atirar. É incrível como Marcos Barbosa se aproxima do encenador alemão a medida que suas temáticas despertam uma reflexão política a partir de uma provocação estética. Contudo, tendo a pensar que a aproximação aqui trazida por uma impressão pessoal minha, tem como ligação direta um jogo estabelecido por um grupo de artistas que optaram por ter em seu arcabouço poético reelaborações críticas a respeito, dentro outros aspectos, do que Brecht deu início em seu teatro, mas com novos pensares, outra influências, multi-interferências, infinitas influencias, inúmeras trocas e intercâmbios, enfim, com sua auto-criação. O Nóis de Teatro não faz Brecht, o Nóis de Teatro faz Nóis de Teatro, assim como o Nóis de Teatro não fez Marcos Barbosa, mas tencionou Marcos Barbosa. Uma militância estética assim como escuto da boca do grupo, mas uma militância formal, onde os mecanismo que operam o espetáculo agem de maneira total na criação. Ter algo a dizer? Sim. Não. Quem sabe. Talvez. Nunca. Eventualmente... Quase Nada do Nóis de teatro fala através dos corpos, através da encenação, através do jogo proposital e bem articulado de códigos que provocam no espectador um levantar do lugar cômodo da assistência. Como dizia Ranciére, a problemática da condição do espectador está no olhar, assim, dependendo de como este olhar opera, a experiência sensível se estabelece de maneira diferenciada. Quase Nada do Nóis de Teatro estabelece um jogo não só do olhar, mas também do escutar, do elucubrar, do elaborar enquanto ser que observa, cria e recria o objeto observado. "Quase Nada" ironiza sua própria forma e com isso estabelece quase que uma linha direta com o discurso do encenador, se é que existe discurso, ou senão, somente provocações. O espetáculo é um jogo e assim como todo jogo, os engendramentos vão se dando a medida que os partícipes afetam e são afetados pelos fluxos constantes que dele emana. Fico feliz em mais uma vez ver um trabalho do grupo, assim como todos os últimos trabalhos. Estava lá na estreia, precisava estar. Quase nada é quase nada: enxuto, condensado, simples, porém complexo. Quase nada é potência. E é de potência que o teatro precisa."

Por Flávio Gonçalves - mestrando em Arte pela Universidade Federal do Ceará

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